Final da história...

Ela ainda ficou alguns instantes pensando sobre o final do livro que lera. “Tudo estava bem”. A frase trouxe a tona os últimos acontecimentos de sua própria vida; como as coisas saíram do rumo que ela imaginava para a própria história, todo o sofrimento dos últimos dias, as lágrimas, os conselhos dos amigos, a solidão. Tudo isso dominava seus pensamentos em todo momento de ócio, mas naquela hora pensar sobre o assunto não doía mais. Era como se ela estivesse anestesiada, pensando na história do protagonista do livro, e como ela se sentia como ele em muitos momentos. O amor arrebatador ainda estava ali, a saudade, a tristeza e a decepção também, mas naquela gelada manhã de quinta-feira ela sentia que era chegada a hora de seguir em frente sem olhar para trás. Pensava em todas as pessoas que ultimamente ganharam significados especiais para ela; em como tê-los por perto realmente fazia diferença, e que tudo que lhe diziam tinha razão de ser. Ela podia mais, ela merecia mais. Ninguém poderia ter sobre ela o poder destruidor de acabar com sua auto-estima, com sua alegria e bom-humor, que sempre estiveram presentes mesmo nos momentos mais complexos.

O sol aparecia tímido fazendo com que o vento cortante não tivesse mais importância, e ela se sentia como uma mocinha de uma comédia romântica, onde a protagonista se reerguia do alto de seus altíssimos saltos Louboutin, pendurava sua bolsa Channel nos ombros e seguia em câmera lenta, com todo mundo olhando, um misto de Carrie Bradshaw e Pollyana. Ela podia ouvir a música de John Mayer que era sua própria trilha sonora tocando alto, os créditos subindo no filme de sua vida, e as pessoas imaginando como seria a continuação da história. O vislumbre do futuro desconhecido sempre a amedrontara, mas naquele momento não havia mais nada no que ela quisesse pensar, só naquilo. As páginas de sua vida estavam todas em branco, e ela não tinha a menor noção de como seriam preenchidas; poderia existir uma sensação mais empolgante do que essa? A confiança, sentimento que há muito não fazia mais parte dela, ganhou novos significados, nova força. Voltando para o mundo real, ela se levantou, colocou os óculos escuros, acendeu seu cigarro e seguiu em frente, fazendo daquele momento um divisor de águas, sem pensar no que deixou para trás e, assim como livro que acabara de ler, sentiu que finalmente tudo estava bem.