Brasil, meu Brasil brasileiro...

Em terra de ninguém, ex-presidente, tirado do cargo por impeachment vira senador; em terra de ninguém ex-governador, ex-prefeito, ex-deputado, ex-presidiário (todos eles numa só pessoa) acusado de muitos de crimes de corrupção e desvio de dinheiro, todos de conhecimento geral e provas irrefutáveis é reeleito deputado com o maior número de votos do Estado, dizendo que vai ajudar a melhorar o país; em terra de ninguém assassino que mata sete pessoas em um cinema com uma metralhadora pede para ir para o regime semi-aberto depois de oito anos preso e ainda diz que vai processar o governo, porque não pôde concluir sua faculdade de medicina; em terra de ninguém best-seller é livro de prostituta patricinha que escolheu a profissão por não estar satisfeita com a vida de classe média do Rio de Janeiro.

Terra de ninguém também costuma ser aquela onde em época de carnaval parece que ninguém morre, ninguém é assaltado, nenhum crime acontece, porque se acontecer o carnaval perde o destaque, e tem alguma coisa mais importante do que carnaval? Em terra de ninguém (de ninguéns, na verdade, mais de 185 milhões de pessoas) uma obra do metrô que utilizava materias de baixa qualidade (afinal, o metrô é desimportante na cidade, ninguém usa, ninguém precisa, ninguém paga caro por ele, não é mesmo!?) engole vidas, esperanças, sentimentos, moradias com uma cratera absurda no meio da cidade mais importante do país, e acaba cuspindo hipocrisia, falta de cidadania, falta de senso, falta de vergonha na cara; em terra de ninguém presidente passa mais tempo viajando do que governando, nunca sabe do que acontece ao seu redor, e na verdade não tem a menor idéia de como chegou onde está, não faz a menor questão de esconder isso e decide que, no 5º ano de governo, vai dedicar tempo e dinheiro à política social (só 5 anos pra ele decidir isso??? vamos deixar o Lula ser presidente mais uns 30 anos, quem sabe ele não descobre as palavras EDUCAÇÃO E SAÚDE, só pra começo de conversa); em terra de ninguém lugar de dinheiro não é no banco, é na cueca dos outros.

Em terra de ninguém, crianças ainda morrem de desnutrição, e 20 mil litros de leite são jogados fora por falta de energia para armazená-los, e falta de estradas boas para que os técnicos cheguem até o lugar e resolvam a situação, além de supersafra de batata que é jogada fora como se comida estivesse sobrando pra todo mundo; nesse tipo de lugar, escolas do Estado tem salas de informática com computadores novos e ninguém pode mexer porque não tem professor de informática, e também não tem o menor interesse em se contratar um; lá, pobre vai morrer mais pobre do que nasceu, vai ser marginalizado e todas as oportunidades lhe serão negadas, porque ele é pobre mesmo, vai fazer mal uso das oportunidades; em terra de ninguém menor de idade que assalta família com arma de brinquedo e mata criança de seis anos arrastada por sete quilômetros, da maneira mais brutal do mundo, vai passar 3 anos na FEBEM e vai sair como se nada tivesse acontecido. É triste pensar que realmente existe um lugar assim, e que ele parece ser de ninguém, mas é de tanta gente, tante gente invisível, tanta gente boa, tanta gente ruim...é tão absurdo que parece mentira, pena que não é.